Monday, October 30, 2006

Entrevista com Chanceler Augustus Nicodemus Lopes

"O Vaticano publicará um documento, que repensa a forma como a instituição católica vê o uso do preservativo. Porém, ela apenas revê o uso em casos graves, como o de pessoas HIV positivas.
Ainda assim o ministro da saúde do Vaticano não especificou se o uso será "permitido" ou não por esse documento. O documento será escrito por cientistas e teólogos encarregados pelo próprio Papa, Bento XVI, de fazer um estudo sobre o assunto."


Segue a entrevista na íntegra com o Chanceler do Mackenzie sobre o assunto.
Por Julia Reina, Renata Rizzi e Renata Machado.

O que o senhor sabe sobre o documento a ser publicado pelo Vaticano?
Não é uma surpresa para mim, visto que o Vaticano acompanha de perto o pensamento do mundo católico e procura ajustar-se quando entende que isto é necessário. Seria uma surpresa, todavia, se o Vaticano mudasse a sua doutrina por esse motivo, considerando que uma das características da Igreja Católica Romana é exatamente a sua persistência em conservar a sua tradição dogmática através dos séculos.

Qual a sua opinião em relação ao sexo antes do casamento?
A minha opinião é aquela do Cristianismo histórico conservador, ou seja, que o sexo é uma bênção dada por Deus para ser usufruída numa relação de compromisso e responsabilidade dentro do casamento. O sexo é mais do que o envolvimento físico de um homem de uma mulher, tem dimensões mais complexas que só podem ser entendidas plenamente no ambiente do casamento. O sexo antes e fora do casamento nunca pode ser completo, pois lhe falta o elemento do compromisso moral, psicológico e espiritual que faz com que ele seja completo. Por estes motivos, considero sexo antes do casamento um desvirtuamento da intenção original de Deus quanto à sexualidade.

O que o senhor, ou até mesmo a religião “pensa” sobre o uso de pílula anticoncepcional e preservativo?
Fica difícil dizer o que a "religião" pensa sobre o uso de pílula anticoncepcional e preservativos, pois dentro do termo "religião" cabem muitas tradições religiosas, tanto dentro do cristianismo quanto fora dele, todas com opiniões diferentes sobre o assunto. Portanto, direi apenas o que eu penso. Não vejo problema no uso de anticoncepcionais, desde que algumas condições sejam observadas, sendo todas elas dentro do casamento. Primeira, que eles não sejam abortivos, isto é, que eles não atuem depois da fecundação, destruindo o óvulo fecundado, o que para mim implica em aborto. É o caso de algumas pílulas. Segundo, que sejam usados por casais que precisam manter o controle da natalidade. É lamentável que o surgimento de anticoncepcionais e preservativos, cujo alvo final declarado é de evitar a Aids, esteja fomentando a promiscuidade sexual entre jovens e adolescentes, que se sentem seguros para ter uma vida sexual ativa com vários parceiros de toda orientação sexual disponível no mercado.

O senhor acha que os jovens devem ter educação sexual na escola, dês de cedo?
Acho que os jovens deveriam ter educação sexual na família, desde cedo. É tarefa dos pais instruir os filhos sobre a sexualidade e as questões relacionadas ao sexo. Exatamente por que os pais são omissos, porque as famílias estão destroçadas, porque os pais não tem exemplo nem autoridade para ensinar qualquer coisa aos filhos nessa área, coloca-se esta tarefa sobre o Estado ou sobre as escolas , o que para mim é um grande erro. A educação sexual na escola não deveria ficar entregue nas mãos de pedagogos, psicólogos e médicos que , em sua maioria, podem não têm uma formação moral e ética que permita uma visão mais integral do assunto e a inserção de valores morais e éticos que sempre fizeram parte da tradição cristã ocidental. Via de regra, o que se ensina hoje em grande parte das escolas é o "liberou geral", o sexo antes do casamento como se fosse a coisa mais natural do mundo, quer seja hetero ou homo. Como estas coisas geram toda sorte de problemas sociais, com grande impacto negativo na família, o Estado se vê obrigado a incentivar o uso de camisinha, de preservativos, com objetivo de minorar esses efeitos negativos. É uma bola de neve. Diante desta situação caótica, e mesmo entendendo que não é a solução ideal, eu concordo que o Estado deve tomar a iniciativa para não deixar o problema da Aids crescer.

A Igreja Católica ainda prega a abstinência sexual como uma solução para o mal da Aids, e o senhor, o que pensa disto?
Estou de acordo. E não é só a Igreja Católica que prega isso. Já existiram programas governamentais muito bem-sucedidos que indicavam exatamente isso. Nos Estados Unidos, faz alguns anos, o ministro da saúde C. Everett Koop realizou estudos epidemiológicos profundos e defendeu a abstinência como forma mais eficaz que preservaria não somente o aumento dessa doença, como resgataria a dissolução moral a qual a sociedade havia se jogado. Falta vontade e falta coragem ao Estado brasileiro para encarar o problema de frente. E o que é pior, sob pretexto de educar a sexualidade, o governo vem, na realidade, promovendo a promiscuidade. A causa básica do crescimento da Aids, da fragmentação da família, do aumento das mães solteiras, da falta de controle da natalidade, é exatamente o impacto do movimento de liberação sexual que teve início na década de 60, derrubando todas as restrições morais com relação ao sexo, desvalorizando o casamento e a virgindade, e transformando o sexo numa experiência fisiológica ou biológica, desconectada de valores como compromisso, fidelidade e amor verdadeiro. Esta é a verdadeira causa da explosão de doenças venéreas, da Aids, e dos graves problemas sociais resultantes da promiscuidade entre os jovens dessa geração. O uso de camisinhas e pílulas é um remendo, um band-aid para curar um câncer.

Esse pensamento fechado da Igreja, não acaba por afastar os jovens da religião?
Não considero esse pensamento como "fechado". O pensamento "aberto" só tem trazido problemas de toda sorte a esta geração. Além do mais, o pensamento da igreja, quer seja católica ou protestante, deve se guiar pelo que diz a Bíblia, a Palavra de Deus, e não por objetivos pragmáticos. Os padrões morais revelados por Deus na Bíblia não devem ser diminuídos em nome de se manter as igrejas cheias de jovens. Os jovens gostam da verdade. Se dissemos a verdade a eles em amor, clareza e gentileza, não se afastarão, ao contrário, se sentirão atraídos, pois buscam sempre um ponto de referência. Indico como prova do que estou dizendo o crescimento vertiginoso no Brasil e no mundo do movimento evangélico, que prega a abstinência sexual até o casamento, e que é composto em grande parte de jovens.

Acha que alguma doutrina da Igreja em relação ao assunto deveria mudar já que atualmente há certo paradoxo entre saúde e religião no que diz respeito a sexo?
Não sei a que paradoxo você se refere, que existe entre saúde religião. Considero a perspectiva religiosa tradicional muito mais saudável do que a promiscuidade gerada pela liberação total na área sexual.

3 comments:

Anonymous said...

Nossa esse cara realmente tem uma visão extrema das coisas, é um representante perfeito da Igreja Católica conservadora e por que não dizer, careta, do século passado.

Anonymous said...

Parabens pela materia!!!!!!!

Anonymous said...

Ricardo!!
O doutor nicodemos sabe do que esta falando ate porque ele tem muita coerencia nao so com o mandamento biblico, mais tambem com a influencia que tenta tira-lo do pensamento cristocentrico!!
As revolucoes estao tragando todos que se enclinam para elas!!
God bless you!